Future Trends: panorama do mercado farma no primeiro semestre de 2020

Future Trends: panorama do mercado farma no primeiro semestre de 2020
15 de setembro de 2020 Viviane Massi
Panorama do mercado farma no primeiro semestre de 2020

A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) realizou o pré-evento de seu tradicional congresso anual – o Future Trends – na última quarta (9/9). Transmitido em ambiente virtual, o pré-evento trouxe palestrantes de peso: Paulo Paiva, vice-presidente LATAM da Close-up International; e Sydney Clark, vice-presidente sênior de Consultoria e Tecnologia do IQVIA.

Em geral, os dados do mercado farmacêutico são positivos, com crescimento dentro da expectativa pré-pandemia. “Apesar da Covid-19, o varejo farma cresceu 9% de julho de 2019 a julho de 2020. A população, em nenhum momento, deixou de ver a farmácia como necessidade, mesmo na crise. E podemos falar inclusive numa volta à normalidade aquecida.”, pontua Clark, do IQVIA.

Atualmente, o consumidor está buscando produtos mais acessíveis, com preços mais baixos. Por isso, genéricos e similares de marca foram os que mais cresceram de forma acelerada.

Somente um cenário econômico com elevada retração do PIB poderia impactar o varejo farmacêutico. A previsão é de que o PIB brasileiro se retraia em torno de 4,5% a 8%, podendo chegar a uma retração de 11%.

“Uma retração de 11% no PIB representaria um desastre para o varejo farmacêutico, porque haveria mais desemprego e menos acesso à saúde. Sem recursos, as pessoas tendem a comprar menos”, analisa Paulo Paiva da Close-up.

De julho de 2019 a julho de 2010, o varejo farmacêutico total movimentou R$ 133 bilhões, segundo dados do IQVIA. Vale destacar que as taxas de crescimento do setor são as mais altas do mundo, ficando acima de países como Estados Unidos, México e Colômbia. A projeção é que o varejo farmacêutico brasileiro feche o ano com crescimento de 10,6%, um índice bastante favorável, segundo os especialistas.

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Desempenho do varejo farma no 1º semestre

Apesar do risco de elevada retração, os números são favoráveis e agradam ao setor. Cerca de cinco meses após o início da pandemia, é possível observar sinais de estabilização da demanda e volta do crescimento perto dos patamares observados antes da pandemia de Covid-19.

De janeiro a julho de 2020, março foi o mês de maior destaque. O mercado em geral chegou a crescer 28% em unidades no comparativo com o mesmo período de 2019. Em janeiro e fevereiro, esse crescimento havia sido de apenas 4,4%. Nos meses seguintes, abril e maio, esse acréscimo chegou a apenas 3%; e, em junho e julho, alcançou taxas de 7%, sempre em comparação com mesmo período de 2019.

Em relação ao faturamento, março teve índice semelhante ao de unidades (28%), mas os dois meses anteriores – janeiro e fevereiro – cresceram 12,4% em relação ao mesmo período de 2019. Na sequência, abril e maio, as vendas em reais caíram significativamente para 1,2% e 3% respectivamente. E, em junho e julho, esses percentuais chegaram a 9,9% e 10,2%, respectivamente, se comparados com o faturamento dos mesmos períodos em 2019.

 

Desempenho do varejo por subcanais

Ao analisar o varejo sob a ótica dos subcanais, é possível observar elevado crescimento das farmácias independentes e das redes associativistas. “Elas estão mais localizadas em zonas residenciais, bairros de periferia e cidades do interior, justamente onde as pessoas moram. As grandes redes, por outro lado, tiveram suas vendas fortemente impactadas por estarem prioritariamente em centros comerciais e grandes centros urbanos, áreas que tiveram fluxo reduzido devido à paralisação das atividades e ao isolamento social”, avalia Paiva.

As farmácias independentes e as redes associativistas cresceram 37,5% e 41%, respectivamente, em março de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019, enquanto as grandes redes tiveram crescimento de apenas 20%.

Entre abril e junho, as independentes e associativistas apresentaram queda, mas, ainda assim, mantiveram boa performance, com percentuais de crescimento variando de 6% a 21%. As grandes redes, por sua vez, continuaram com números bem abaixo do esperado. Para se ter uma ideia, abril, maio e junho apresentaram queda no faturamento de -4,8%, voltando para resultados positivos somente no mês de julho, quando houve a reabertura de shoppings e áreas comerciais (3,5%).

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Desempenho do varejo por categoria de produtos

De acordo com dados da Close-up International, apresentados durante o pré-evento Future Trends, a categoria de produtos mais impactada foi a de medicamentos isentos de prescrição (MIPs), que, mesmo tendo tido um expressivo desempenho em março de 2020, apresentou queda brusca nos meses seguintes. Em março, a venda de MIPs cresceu 43,7% em relação a março de 2019, porém caiu para -1,9% em abril e se manteve negativa até julho.

“As pessoas correram à farmácia em março para fazer estoques de MIPs, mas, ao longo do isolamento social, deixaram de consumir esse tipo de produto. Passamos o inverno com a venda de MIPs apresentando taxas negativas de crescimento. Esse cenário explica-se pelo fato de que, sem sair de casa, as pessoas não griparam, não se contaminaram com resfriados comuns, as crianças não foram à escola. Por isso, a procura por xaropes, expectorantes, antigripais foi muito baixa”, analisa Paiva, da Close-up.

Por outro lado, o IQVIA traz também a informação de que houve aumento da demanda para MIPs que tratam estresse, gastrite e dores musculares, como medicamentos para azia, acidez no estômago e calmantes fitoterápicos.

Os não medicamentos (NMEDs), ao contrário, tiveram excelente performance, chegando a manter taxas mais estáveis de crescimento. Em março, cresceram 19% em relação a março de 2019, caindo em abril para apenas 2%. No entanto, nos meses seguintes – maio, junho e julho – obtiveram taxas de crescimento de 10,4%, 19,3% e 18,3%. Esse desempenho é explicado em grande parte pelo alto consumo de vitaminas por parte da população, que buscava se proteger elevando a imunidade.

Os medicamentos sob prescrição (MPX) tiveram performance intermediária, crescendo 27,9% em março, caindo para 1,7% e 0,1% em abril e maio e passando a 8,6% e 9,4% em junho e julho respectivamente, sempre em comparação com o mesmo período de 2019.

Dentro da classe de prescrição, os genéricos foram a estrela dessa pandemia, com um grande incremento nas vendas devido ao preço mais baixo. “É previsto que o impacto da pandemia na economia afete a renda do consumidor, o que pode aumentar a velocidade de penetração dos medicamentos genéricos no mercado de prescrição”, comenta Paiva.

Em relação aos produtos de higiene, perfumaria e cosméticos (HPC), vale destacar que os mais vendidos foram aqueles que podiam ser aplicados em casa, como esmaltes e tinturas. Já maquiagem teve desempenho ruim porque as mulheres passaram a trabalhar em home office.

 

Tendências e legados da Covid-19 para o canal farma

Todos aguardam ansiosamente uma vacina que os proteja contra o coronavírus, mas até que isso aconteça a vida segue cheia de restrições, apesar da retomada das atividades econômicas em todo o País.

Após pesquisas e análises de mercado, a Close-up International aponta como tendência os serviços de saúde em farmácias e drogarias. “Tudo indica que a demanda por soluções em saúde – vacinas, exames, consultas médicas – mais próximas das residências crescerá no futuro. Por isso, pode ser um bom caminho investir nesse tipo de atendimento ao cliente”, reflete Paiva.

Outra informação interessante é que a Associação Brasileira de Psiquiatria evidenciou um possível aumento no número de prescrições de medicamentos para tratamento de doenças ligadas ao Sistema Nervoso Central (SNC), o que pode gerar um incremento na venda desses produtos em farmácias e drogarias.

Em relação ao e-commerce, apesar de ainda representar muito pouco no varejo farmacêutico total – apenas 3% das vendas –, houve grande adesão a esse canal durante a pandemia, mas ele terá nas lojas físicas um grande concorrente quando a situação se regularizar. Para o IQVIA, esse canal de vendas será realmente relevante quando chegar a 10% do mercado.

O varejista também deve ter atenção redobrada ao sortimento de produtos. A sugestão é incrementar os itens disponibilizados nas lojas, pois a frequência de compra do consumidor tende a diminuir e, com isso, a lista de compras cresce. Mas com o cuidado de não comprar demais ou de forma equivocada, dando atenção à gestão do estoque.

Por fim, ninguém sabe dizer se telemedicina e prescrição digital, fruto de legislações temporárias durante a pandemia, vão continuar sendo autorizadas. Para Clark, do IQVIA, elas vieram para ficar e vão constituir um modelo híbrido de atendimento, que mescla digital e físico. Da mesma forma, o ponto de venda vai precisar se adaptar a um formato que combine canais físicos e virtuais na experiência de compra do consumidor.

O Abrafarma Future Trends começou ontem (14/9) e vai até 18 de setembro, em ambiente totalmente online e exclusivo para convidados.

 

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